Thursday, September 18, 2008

CARTAS DOS NOSSOS LEITORES

CRUZARAM A BOLA PARA OS MEUS PÉS, EU SOU OBRIGADO

A REMATAR À BALIZA, MESMO QUE NÃO META GOLO !

Esta seria a frase desportiva que eu devia usar para dar moral à história que aqui vou contar.
Mas não é de futebol que vou falar, mas sim das festas e tradições aqui celebradas por nós portugueses.
Aqui há tempos entrei num dos bares da nossa comunidade e onde estavam dois senhores, junto ao balcão a falarem sobre as festas do Divino Espírito Santo.
Como no momento não havia muitos clientes dentro do referido bar, o silêncio permitiu que eu ouvisse toda a conversa. Então um deles achava muito engraçado todas as Ilhas açorianas festejarem o Espírito Santo, mas com maneiras tradicionais diferentes, o outro senhor, talvez sob o efeito de algumas cervejinhas a mais, só gabava as festas da sua terra, lá é que se sabia festejar, lá é que sabiam enfeitar, enfim, só lá é que tudo era bonito, até alguém já tinha dito que o arquipélago dos Açores era formado por 8 ilhas e um parque de diversões, como é óbvio, o referido parque de diversões só podia ser a Ilha desse senhor.
Até aqui tudo bem ! por não ser surdo ouvi e como a conversa não era comigo, nada tenho contra nem a favor do diálogo destes dois amigos.
Só que quando me dirigi para a porta, para ir embora, o tal senhor nascido na Ilha ‘’ Parque das Diversões’’ disse o seguinte: Ainda no outro dia, foi Domingo da Trindade, fui à missa na Igreja Portuguesa e tive a oportunidade de ver o cortejo da Coroação do Império Mariense, gostei muito de ver, tudo muito bonito, aqueles enfeites, com fitas, lenços, aquelas varas, toalhas, etc, só que toda a beleza perde a graça quando aqueles três homens, um com um tambor, outro com uns ferros e outro com uma bandeira começaram para ali a cantar uma lengalenga que ninguém entende. Antes dessem aquele tempo para a banda de música tocar mais um pouco, que ficava muito mais engraçado. !
Eu apertei o puxador da porta para a abrir de novo e voltar atrás para ir dizer umas coisas a esse senhor, mas como me apercebi de umas cervejas a mais na cabeça dele, optei por ir embora e evitar assim problemas.
Mas sinceramente, fiquei sempre a pensar nisso e em tanto pensar cheguei à conclusão que, apesar desse senhor estar meio alcoolizado naquele dia, já não é ele a primeira pessoa a criticar e a fazer escárnio das folias dos Impérios Marienses.
Então aproveito a oportunidade que o REMATE me dá, embora o assunto não esteja relacionado com desporto, para publicamente falar um pouco sobre isso.
‘’ Aqueles três homens, um com uma bandeira, outro com um tambor, e outro a tilintar ferros ( chamados testos ), têm um sentido muito significativo ‘’.
Segundo reza a lenda da Rainha de Aragão no seu culto ao Divino Espírito Santo, assim como como todas as outras coisas que se costumam ver nos cortejos das Coroações marienses, desde os lenços, as toalhas, as varas, as fitas, as flores, tudo tem um gesto simbólico.
Embora algumas pessoas digam que os ‘’ foliões’’ significam os palhaços para divertirem a festa, mas num livro muito antigo com o nome ‘’ O Culto da Raínha’’, não é isso que lá diz, e dá uma missão muito especial à folia, pois seria necessário várias páginas deste jornal para poder explicar. O que eu gostava de aqui dizer, quer para aquele senhor, quer para qualquer pessoa que tenha a mesma opinião, que as folias desfeiam os cortejos, e antes ouvir a banda tocar, pois estou plenamente de acordo com as pessoas que não são de Santa Maria e que nunca foram habituados a ver e ouvir tal tradição, que até achem uma coisa sem graça.
Pois, eu sou mariense e com muito orgulho ! fui habituado desde pequeno a ouvir folias, o meu pai cantava à folia, eu já fui folião vários anos, e sempre que posso escuto as folias com o maior prazer, pois sou um amante das tradições, embora haja algumas que eu gosto mais do que outras.
Por exemplo, não fui habituado a ver touradas, pois a primeira vez que vi uma tourada, para que não ofendesse ninguém perguntei a mim próprio ‘’ Que graça é que há-de ter um touro bravo correr atrás de pessoas’’, e a minha mente respondeu: para ser sincero não acho piada nenhuma, ainda se fosse um joguinho de futebol, mesmo com duas equipas de baixo escalão, teria muito mais graça.
Mas sei que a tourada é uma das tradições mais previlegiadas em várias partes do mundo, incluindo os Açores. E por eu não gostar, gosto de pelo menos respeitar aqueles que gostam.
E que tal ! se cada um fosse gostando do que gosta e respeitando os outros naquilo que gostam, não estaríamos a contribuir para uma sociedade mais igualada e onde não haveria tanto mais bonito, nem mais feio, nem melhor nem pior?

Sinceros cumprimentos

Manuel Melo


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