Monday, November 1, 2010

ENTREVISTA COM......... ANTÓNIO LOURENÇO


ANTÓNIO LOURENÇO

35 ANOS A APITAR JOGOS
NO CANADÁ


O REMATE – Sei que foi árbitro federado aqui no Canadá, como apareceu essa ideia de ser árbitro de futebol.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Já vim de Portugal com esse macaquinho na cabeça. Quando eu tinha 25 anos deixei de jogar futebol e então dediquei-me à arbitragem, com 27 anos, e antes de emigrar para aqui, já era árbitro Nacional-A. Quando cheguei ao Canadá, um dia estava na casa dos meus tios e como o senhor Fernando Botelho soube que eu era árbitro, foi-me perguntar se eu queria arbitrar um jogo do Oriental, e eu fui, desde então, ou seja, desde 1972 e até hoje, tenho sido árbitro de futebol, e sei que a Comissão de árbitros vai-me oferecer uma placa dos 35 anos que estou envolvido na arbitragem.

O REMATE – O envolvimento na arbitragem aqui no Canadá foi fácil ou difícil, já que o futebol é diferente aqui.?
ANTÓNIO LOURENÇO – O futebol não é diferente, as atitudes é que são diferentes, por exemplo, nós lá em Portugal quando vamos apitar um jogo qualquer temos polícia, temos guarda republicana nos campos, aqui não, aqui não temos nada, aqui temos que nos adaptar a esse sistema, felizmente eu adptei-me com facilidade, porque tem de haver honestidade acima de tudo, e quando somos honestos não há problema.

O REMATE – Quando começou a apitar jogos aqui no Canadá, sentiu algum receio, já que não havia segurança nos campos de jogos.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Não, por acaso não tive problemas, antes de me registar na arbitragem, apitei jogos do Oriental, jogos amigáveis quando vinham até cá equipas dos Açores e da América, ia sempre apitar esses jogos sempre de graça, nunca levei um ''penny '' ao Oriental, e se fosse hoje continuava a fazer o mesmo.

O REMATE – Sei que como árbitro Federado apitou grandes jogos quer aqui, quer em Portugal, para si qual foi o jogo que mais o terá marcado e guarda como recordação.
ANTÓNIO LOURENÇO – Tenho muitos jogos dos quais guardo boas recordações, mas há um que nunca me vou esquecer. O jogo em questão era aparentemente fácil, era um Benfica-Varzim, penso que em 1972, e nesse jogo ao intervalo o Benfica estava a perder por 1-0, e eu anulei um golo ao Benfica, e olhe que sou 150 por cento benfiquista, depois vieram os jogadores do Benfica dizer que não era fora de jogo e outras coisas mais tentando me convencer, mas era mesmo offside, mas o Benfica acabou por ganhar por 5-1., mas sem favores da arbitragem.

O REMATE – E aqui no Canadá, apitou alguns jogos internacionais.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Sim, apitei alguns como um entre a selecção de Kitchener e o Sporting de Braga, apitei o Oriental contra o Vitória de Setúbal, apitei na realidade muitos jogos, jogos esses que marcaram, e muito, a minha carreira.

O REMATE – Sente-se realizado por ter seguido a carreira de árbitro, procurando ser sempre honesto nas suas decisões.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Claro que me sinto realizado, já tenho a minha idade, e estou aqui no Canadá há 35 anos, embora a gente a gente sente que tem sempre algo mais que poderia ter feito e não o fez.

O REMATE – Porque deixou de apitar jogos da Liga da KDSL, e se mudou para outras Ligas.?
ANTÓNIO LOURENÇO – É claro que a idade não perdoa, e depois vai aparecendo novos árbitros, e há que dar-lhes oportunidades para poderem apitar jogos, eu por acaso até tenho ensinado a alguns rapazes mais jovens a minha maneira de apitar, dizendo-lhes como se deve actuar e como se deve conduzir um jogo, sempre com a maior honestidade, mas como acabas-te de dizer, eu continuo a apitar, mas agora na Liga de Veteranos, na Liga das Senhoras e na Liga dos mais jovens, tenho sempre vontade de arbitrar jogos, mas sei que vai chegar o dia em que vou dizer, para mim acabou.

O REMATE – Antigamente não havia nos campos a televisão, os escultadores para os ouvidos e microfones para os membros da arbitragem falarem uns com os outros, não havia esta alta tecnologia, acha que isto tudo veio beneficiar e ajudar a arbitragem.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Não auxilia absolutamente nada, isto é mais uma vaidade, não sei se vocês têm reparado, eles têm aquilo nos ouvidos para ouvir, e micro para falarem, mas eu nunca vi eles voltarem atrás numa decisão mais polémica que eles tomaram, que eu saiba se o 4º árbitro diz de fora do campo que a decisão está errada, eles não fazem caso, e nunca voltam atrás nas decisões que tomaram, mesmo sendo uma decisão errada.

O REMATE – O que vejo também é o seguinte, se o árbitro marca falta, geralmente o jogador tem a tentação de ir falar com o árbitro, mas sabe que não vai resolver nda, então porque vai discutir com o árbitro.?
ANTÓNIO LOURENÇO – É aquela mentalidade dos jogadores, que só eles é que sabem, é verdade que por vezes nós erramos e eles podem ter razão, mas se tomamos a decisão, está tomada, e não vamos voltar a trás com ela, por exemplo, quando eu decidia, tinha que continuar com a decisão tomada.

O REMATE – Quando entra em campo, você e os seus auxiliares levam sempre em mente realizar um trabalho honesto, e não prejudicar nenhuma equipa não é verdade.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Nunca aqui no Canadá durante 35 anos, e em Portugal durante 5 anos como árbitro Nacional, e fui apitar do norte a Sul do país, nunca, mas nunca na vida entrei dentro de um campo de futebol com a intenção de prejudicar fose quem fosse, nem para beneficiar alguma equipa. Eu e os meus fiscais de linha entravamos sempre em campo, naquela altura não havia 4º árbitro, era sempre para apitar com toda a nossa sabedoria e honestidade, fossem as equipas que fossem, no princípio da entrevista já falei que o Benfica marcou um golo e eu anulei-o, porque na minha opinião o jogador estava fora de jogo, e como lhe disse sou benfiquista.

O REMATE – Já que estamos a falar do Benfica, eu pergunto, o que acha do Benfica deste ano em comparação ao Benfica da época passada que chegou a campeão nacional e goleava em quase todos os jogos.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Acho que algo de estranho se passa no Benfica, porque embora tenha saído o Di Maria e o Ramires, eles contrataram outros bons jogadores, estou convencido que o Gaiton mais tarde ou mais cedo vai explodir e mostrar o jogador que é, poderá não ser ainda este ano, mas vejo que é um excelente jogador e foi uma boa aquisição, este ano realmente o Benfica tem sentido a falta do Di Maria e do Ramires, mas estou convencido que a equipa vai melhorar, e as equipas de arbitragem não estão a ver as cores dos clubes da mesma maneira, e acho que o Benfica tem ainda uma palavra a dizer, mas se continuar assim vai ser difícil, porque ainda há pouco acabei de ver no jogo contra o Portimonense, na minha opinião, uma jogada em que devia ser marcada uma grande penalidade contra o Portimonense, e o árbitro não marcou.

O REMATE – Se fosse outra equipa dos grandes acha que o árbitro teria marcado a grande penalidade.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Estou absolutamente certo que marcava, se aquele penalty fosse a favor das equipas do norte, não tenho dúvidas que ele marcava, mas como era a favor do Benfica, ficou por marcar, ainda hoje vi o jogo do Sporting contra o Rio Ave e há um golo anulado ao Sporting, talvez o árbitro tenha visto mal o lance, se em vez do Sporting fosse outra equipa, o golo não seria anulado, mas como era o Sporting.

O REMATE – Para terminar esta entrevista, quer deixar alguma mensagem.?
ANTÓNIO LOURENÇO – Em primeiro lugar quero dar os meus parabéns ao REMATE por estarem a fazer um bom trabalho, continuem porque isso que estão a fazer só engrandece a nossa comunidade, engrandece os portugueses, e faço um apelo aos jovens e que queiram ser árbitros, que leiam as leis do futebol, tirem um curso de árbitro e que sejam honestos, e principalmente aos jovens portugueses apelo para que sigam o caminho da arbitragem para engrandecerem a arbitragem portuguesa.

HILDEBERTO ALVES

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